Calf Note #254 – Hipocalcemia Materna e falha de colostragem em Bezerros

Autor: Jim Quigley Traduzido por: Ana Luiza Resende e Rafael Azevedo

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Introdução

Há crescente volume de evidências que mostram que eventos pré-natais podem afetar os bezerros de diversas maneiras. Por exemplo, pesquisadores da Universidade da Flórida (Tao et al., 2012; Montiero et al., 2014; Ahmed et al., 2021) relataram que o estresse térmico no final da gestação em vacas Holandesas reduziu a absorção de IgG e predispôs os bezerros a um maior risco de morbidade e mortalidade. Outros exemplos de estresse pré-natal em respostas fisiológicas também foram revisados recentemente (Abuelo, 2020).

Um artigo interessante publicado no Veterinary Journal avaliou o estado de cálcio em vacas Holandesas multíparas e os efeitos da hipocalcemia transitória ou persistente na absorção de IgG por seus bezerros.

A pesquisa

Cem vacas multíparas foram avaliadas quanto ao estado de cálcio e hipocalcemia subclínica (SCH) no 1º e 4º dias após o parto. As vacas foram categorizadas em 4 grupos com base nas concentrações séricas de cálcio: normal (CON; Ca >1,87 no 1º dia de lactação (DIM) e >2,10 mmol/L no 4º DIM, n = 36), SCH transitória (TSCH; Ca ≤1,87 no 1º DIM e >2,10 mmol/L no 4º DIM, n = 14), SCH persistente (PSCH; Ca ≤1,87 no 1º DIM e ≤2,10 mmol/L no 4º DIM, n = 15), ou SCH tardia (DSCH; Ca >1,87 no 1º DIM e ≤2,10 mmol/L no 4º DIM, n = 35).

Para entender os tratamentos: transitória significa baixo cálcio sanguíneo logo após o parto, mas níveis normais de cálcio até o 4º dia pós-parto; persistente significa baixo cálcio sanguíneo no 4º dia pós-parto; e tardia significa níveis normais ao nascimento, mas baixo cálcio após 4 dias.

As vacas no período pré-parto foram alimentadas com dieta TMR contendo 34% de silagem de milho, 10% de feno de alfafa, 3% de palha de trigo, 19% de grãos de cevada, 9% de milho, 5% de farelo de soja, 5% de farelo de canola e outros componentes menores. O valor DCAD era -55 meq/kg, e a dieta continha 1,29% de cálcio e 0,48% de fósforo.

Os bezerros foram separados de suas mães ao nascimento e colocados em baias individuais até o desaleitamento. Todos receberam 4 L de colostro pasteurizado (>50 mg de IgG/dL), não oriundo de suas mães, dentro de 2 h após o nascimento. Depois, os bezerros foram alimentados com 5 L de leite pasteurizado duas vezes ao dia. Água fresca e ração inicial estavam disponíveis a partir do 3º dia de idade até o desaleitamento.

Resultados

O estado de cálcio não influenciou a quantidade de colostro produzido pelas vacas na primeira ordenha pós-parto (3,5 kg). Nem a qualidade do colostro foi afetada (média BRIX = 28%) ou o peso ao nascer (39 kg).

Entretanto, a proporção de bezerros com FTP (Falha na Transferência de Imunidade Passiva, definida como proteína total sérica <5,5 g/dL coletada 48 h após o nascimento) foi significativamente maior nos bezerros de mães PSCH e teve tendência a ser maior nos bezerros de mães DSCH, conforme mostrado na Figura 1.

Além disso, os pesquisadores monitoraram diariamente as fezes e registraram a proporção de bezerros que desenvolveram diarreia nos primeiros 10 dias de idade. Bezerros de mães PSCH e DSCH tiveram tendência a maior incidência de diarreia em comparação com vacas normais ou vacas que apresentaram apenas hipocalcemia transitória. Os dados sugerem que o estado de cálcio da mãe, especialmente se a hipocalcemia persistir além do primeiro dia pós-parto, pode influenciar a absorção de IgG pelos bezerros, tornando-os mais suscetíveis à diarreia.

Para contextualizar, dados de Wilhelm et al. (2017) não relataram aumento da incidência de FTP em bezerros de vacas hipocalcêmicas (ambos os grupos tiveram incidência de FTP <3%), embora os bezerros de vacas hipocalcêmicas fossem mais propensos a apresentar diarreia nos primeiros 10 dias de vida (49% contra 33% em vacas normais). Isso sugere que a predisposição à diarreia em bezerros de vacas hipocalcêmicas pode estar associada a alguma alteração na estrutura ou função intestinal, tornando os animais mais vulneráveis. No entanto, o percentual de bezerros com FTP também pode ser afetado pela ingestão de IgG, idade na primeira alimentação e outros fatores não relatados em ambos os estudos.

Resumo

Evidências crescentes mostram que “o que fazemos à mãe, fazemos ao bezerro”, e a gestão adequada do bezerro precisa começar antes do nascimento. Problemas maternos como a hipocalcemia podem afetar o recém-nascido, portanto, o manejo correto da vaca seca é essencial para um excelente desempenho do bezerro.

Figura 1. Incidência de FPT e diarreia em bezerros de vacas com diferentes estados de cálcio. Fonte: Sohrabi et al., 2024.

Referências

Abuelo, A. 2020. Symposium review: Late-gestation maternal factors affecting the health and development of dairy calves. J. Dairy Sci. 103:3882-3893. https://doi.org/10.3168/jds.2019-17278.

Ahmed, B.M.S., U. Younas, T. O. Asar, A.P.A. Monteiro, M..J Hayen, S. Tao, and G. E. Dahl. 2021. Maternal heat stress reduces body and organ growth in calves: Relationship to immune status. JDS Commun. 2:295–299. https://doi.org/10.3168/jdsc.2021-0098.

Monteiro, A.P.A., S. Tao, I. M. Thompson, and G. E. Dahl. 2014. Effect of heat stress during late gestation on immune function and growth performance of calves: Isolation of altered colostral and calf factors. J. Dairy Sci. 97: 6426-6439. https://doi.org/10.3168/jds.2013-7891.

Sohrabi, H. R., T. A. Farahani, S. Karimi-Dehkordi, and N. E. Farsuni. 2024. Association of different classifications of hypocalcemia with quantity and quality of colostrum, milk production, and health of Holstein dams and their calves. Vet. J. 307:106205. https://doi.org/10.1016/j.tvjl.2024.106205.

Tao S., A.P.A. Monteiro, I. M. Thompson, M. J. Hayen., and G. E. Dahl. 2012. Effect of late-gestation maternal heat stress on growth and immune function of dairy calves. J. Dairy Sci. 95:7128–7136. https://doi.org/10.3168/jds.2012-5697.

Wilhelm, A .L, M. G. Maquivar, S. Bas, T. A. Brick, W. P. Weiss, H. Bothe, J. S. Velez, and G. M. Schuenemann. 2017. Effect of serum calcium status at calving on survival, health, and performance of postpartum Holstein cows and calves under certified organic management. J. Dairy Sci. 100:3059-3067. https://doi.org/10.3168/jds.2016-11743.

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