Calf Notes #250 – Alimentação com Eletrólitos

Autor: Jim Quigley

Traduzido por: Ana Luiza Resende e Rafael Azevedo

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Introdução

Recentemente, fui solicitado a aconselhar um veterinário sobre o potencial uso de um produto de saúde animal recomendado para bezerros e leitões durante períodos de estresse. O produto destina-se a ser utilizado “como substituto do leite ou sucedâneo para uso no desaleitamento ou quando os animais estão estressados ​​devido à diarreia”. A pessoa que me contactou disse que vários outros veterinários estão recomendando este produto quando os bezerros desenvolvem diarreia.

De acordo com o site de um distribuidor, o produto contém aproximadamente 63% de lactose, 5% de sal e 0,8% de potássio e contém glicina, bicarbonato de sódio e ácido cítrico. Um bezerro deve receber um pacote do produto (100 g) misturado em 1,8 litros de água morna (~37°C) duas vezes ao dia, durante 2-3 dias. Durante o tratamento, não deve ser fornecido leite ou sucedâneo.

Minha resposta inicial à pergunta “eu recomendaria este produto para o uso recomendado?” foi um NÃO inequívoco. Usar este produto como eletrólito em vez de leite é uma ideia particularmente ruim. Vamos analisar isso mais detalhadamente.

“Jejum para um resfriado”?

A recomendação de alimentação para este produto no site do distribuidor é usar um pacote de 100 g duas vezes ao dia durante 2 a 3 dias. São 200 g de pó por dia. Digamos que seja 95% de matéria seca, então são cerca de 190 g de MS por dia. Com 62,5% de lactose, glicina e minerais, não parece haver muita energia adicional para os bezerros. Estaremos bem abaixo dos requisitos de energia de mantença.

Para explorar este ponto, inseri o programa de alimentação num modelo de crescimento de bezerros para ver o efeito no crescimento. Escolhi um bezerro de 7 dias de idade. Assim, no 7º dia, alimentamos 200g/d do produto misturados em 4 L de água. Assumi 7% de proteína, 0,1% de gordura e 18% de cinzas para chegar a 65% de lactose. A ingestão de energia metabolizável (EM) foi de 0,42 Mcal/dia em comparação com um requisito de EM de manutenção de 1,68 Mcal e um requisito de crescimento de energia metabolizável de 2,82 Mcal/dia para 800 g de GMD por dia. Isso é um déficit de 4,08 Mcal. Portanto, ao alimentar 200g deste produto, estamos efetivamente privando o bezerro de energia durante o período de tratamento. Do lado da proteína, fornecemos 17g de proteína metabolizável por dia, em comparação com uma necessidade de mantença de 24g/d e uma necessidade total de 230g/d.

Ao ditado popular de “jejum para um resfriado e alimentação para uma febre” há muito tempo foi desacreditado para os humanos, como afirma este artigo da Scientific American. O mesmo deveria valer para os bezerros. Quando um animal está lutando contra uma infecção, o sistema imunológico é regulado positivamente e exige mais energia e proteína para produzir os componentes do sistema imunológico que combatem a doença. Privar o bezerro de energia e proteína não apoia muito bem esse esforço.

O que vai, volta…

Nas décadas de 1980 e 1990, nosso paradigma tradicional para o tratamento de eletrólitos era “matar os germes de fome” alimentando-os apenas com eletrólitos. No entanto, pesquisas (ver links abaixo) mostrou claramente que a alimentação com leite além dos eletrólitos era melhor do que apenas eletrólitos. Os bezerros alimentados com leite além de eletrólitos mantiveram o peso corporal e se recuperaram de forma mais completa e rápida do que os bezerros alimentados apenas com eletrólitos. Bezerros alimentados apenas com eletrólitos sofreram atrofia do timo, entre outros resultados negativos. É claro que os eletrólitos devem ser fornecidos em horários diferentes dos da alimentação com leite, e os eletrólitos nunca devem ser misturados com leite ou sucedâneo.

As recomendações de produtos devem ser baseadas em dados científicos sólidos. Infelizmente, os fabricantes deste produto não leem os Calf Notes! Parece que estamos repetindo o “velho ciclo” de “o que vai, volta”. Nesse caso, é melhor deixar o “novo” conselho sobre alimentação de produtos na história.

Ao fornecer eletrólitos para bezerros doentes, sempre continue a alimentação com leite e respeite um tempo adequado (pelo menos 2 horas) entre a alimentação com leite e o fornecimento de eletrólitos.

Referências e links:

https://calfnotes.com/pdffiles/CN043.pdf

https://www.calfnotes.com/pdffiles/CN206.pdf

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1255580

https://hoards.com/article-33881-dont-skip-the-milk-meals-for-sick-calves.html

https://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(94)77018-1/fulltext

https://www.researchgate.net/publication/240640707_Electrolytes_for_Dairy_Calves

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