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Autor: Jim Quigley
Traduzido por: Rafael Azevedo, Sandra Gesteira Coelho e Paula Tiveron
Introdução
Leite de descarte – incluindo colostro, leite de transição e leite com antibióticos – é comumente fornecido aos bezerros como fonte de nutrientes antes do desaleitamento. De acordo com o USDA NAHMS Dairy 2014 Study (USDA,2016), cerca de 78% das fazendas nos EUA fornecem leite (próprio ou não para venda) sozinho ou com sucedâneo… Supondo que a maior parte do leite fornecido aos bezerros não é próprio para venda, é claro que um número significativo de bezerros nos EUA recebe leite de descarte antes do desmame.
A presença de antibióticos e/ou bactérias resistentes a antibióticos é uma preocupação quando se fornece leite de descarte. Eu escrevi sobre alimentar bezerros com leite de descarte em vários Calf Notes (#35, #98, #119, #146, e #193). Geralmente, entendemos que a alimentação com leite de descarte, influência na resistência à antibióticos ou na eliminação de bactérias resistentes à antibióticos; no entanto, o risco relativo disso ocorrer não é claro. Contudo, algumas pesquisas recentes do Journal of Dairy Science tentaram responder à pergunta – “Se eu forneço leite de descarte, qual é o risco de aumentar a resistência a antibióticos em meus bezerros e especificamente na minha fazenda em geral?” Esta é uma questão importante porque os genes que codificam para a resistência a antibióticos mostraram “mover-se” de uma espécie de bactéria para outra (veja esse artigo da Wikipédia para mais informações). O aumento da resistência a antibióticos, mesmo em bactérias não patogênicas, aumenta o risco de resistência a antibióticos em bactérias potencialmente patogênicas, e pode reduzir a eficácia de antibióticos usados para bezerros e vacas – e humanos – no futuro.
A Pesquisa
Um estudo do Journal of Dairy Science, de Duse et al. (2015), relatou resultados de pesquisa de 243 fazendas na Suécia. As práticas de manejos foram relatadas e amostras fecais de 729 bezerros de 7 a 28 dias de idade foram coletadas (idade média = 15 dias). Os pesquisadores analisaram amostras fecais quanto à presença de Escherichia coli resistente a antibióticos (resistente a numerosos compostos antimicrobianos). Eles então avaliaram as relações entre as práticas de manejo (incluindo a alimentação com colostro e leite de vacas tratadas) e a eliminação fecal de E. coli resistente a antibióticos, no geral. Eles relataram que E. coli resistentes à estreptomicina, ácido nalidíxico ou cefotaxima foram isolados de 90, 49 e 11% dos bezerros, respectivamente. Cerca da metade dos bezerros (48%) tinha um isolado aleatório de E. coli resistente a pelo menos um composto. Vários fatores de manejo foram associados com a eliminação E. coli resistente; no entanto, a alimentação com leite de descarte foi um fator de risco significativo para a eliminação de E. coli resistente. Curiosamente, a alimentação com colostro e leite de transição de vacas que foram tratadas na secagem NÃO foi associada à eliminação de E. coli resistentes, sugerindo que períodos de carência apropriados são úteis na redução do risco de transmissão de resistência a antibióticos.
Pesquisadores Canadenses (Babafela e Smith, 2017) adotaram uma abordagem diferente para quantificar o risco de bezerros eliminarem bactérias resistentes a antibióticos nas fezes, após a ingestão de leite de descarte. Esses pesquisadores usaram um modelo de simulação de Monte Carlo, para estimar o aumento no número de bezerros que eliminariam E. coli resistentes à cefalosporina, quando alimentados com leite de descarte. A “simulação de Monte Carlo” é um modelo computacional, geralmente contendo milhares de “animais” simulados. Cada “animal” (pense nisso como uma linha, em uma planilha, contendo dados para um animal) contém várias características de interesse.
Nesse caso, os pesquisadores incluíram o percentual de fazendas usando leite de descarte, dias em que o leite de descarte foi fornecido, a quantidade de leite ingerida, a prevalência de resistência a antibióticos, E. coli e a concentração de E. coli no leite de descarte. Os autores então calcularam parâmetros adicionais para determinar o aumento no número de bezerros eliminando E. coli resistentes quando alimentados com leite de descarte. Os leitores interessados em mais detalhes da simulação devem rever este artigo interessante no Journal of Dairy Science.
Em geral, os autores relataram que o risco de eliminação de E. coli resistente a antibióticos por bezerros alimentados com leite de descarte durante todo o período de desmame foi de 5,7 bezerros por 1000 bezerros alimentados. A simulação assumiu que 5,7% das amostras de leite de descarte continham E. coli resistente a antibióticos. Quando a prevalência de E. coli foi reduzida para 3, 1,5 e 1%, o risco diário de eliminação diminuiu para 50, 65 e 82%, respectivamente.
Os autores formularam várias hipóteses neste estudo para realizar sua simulação, devido à falta de dados sobre as relações dose-resposta de E. coli resistente a antibióticos em bezerros alimentados com leite. No entanto, apesar das suposições, a alimentação com leite de descarte aumenta claramente o número de bezerros que eliminam bactérias resistentes aos antibióticos. Até que ponto a pasteurização pode diminuir esse risco não é claro. De acordo com o estudo USDA NAHMS Dairy 2014 (USDA, 2016), 72,9% das pequenas propriedades leiteiras (<30 vacas) nos EUA fornecem leite não pasteurizado (incluindo o próprio para venda e o não próprio para venda), enquanto 26,3% das grandes fazendas (>500 vacas) utiliza leite não pasteurizado. Assim, parece que há risco significativo de que o leite usado contribui para a prevalência de bactérias resistentes a antibióticos nas fazendas.
Resumo
Informações adicionais publicadas recentemente sugerem que o uso de leite de descarte contribui para a eliminação de bactérias resistentes a antibióticos por bezerros. Em fazendas onde o leite de descarte é fornecido, estima-se que 5,7 de 1.000 bezerros irão eliminar E. coli resistente a antibióticos. O grau de contribuição dessas bactérias para a resistência geral aos antibióticos e o efeito para o qual a pasteurização é eficaz na redução desse risco, ainda são desconhecidos.
Referências
Babafela, B. A. e B. A. Smith. 2017. Risk assessment modelling of fecal shedding caused by extended-spectrum cephalosporin-resistant Escherichia coli transmitted through waste milk fed to dairy pre-weaned calves. J. Dairy Sci. https://doi.org/10.3168/jds.2017-13196.
Duse, A., K. Persson Waller, U. Emanuelson, H. Ericsson Unnerstad, Y. Persson, and B. Bengtsson. 2015. Risk factors for antimicrobial resistance in fecal Escherichia coli from preweaned dairy calves. J. Dairy Sci. 98:500–516.
USDA. 2016. Dairy 2014, Dairy Cattle Management Practices in the United States, 2014. USDA–APHIS–VS–CEAH–NAHMS. Fort Collins, CO. https://www.aphis.usda.gov/animal_health/nahms/dairy/downloads/dairy14/Dairy14_dr_PartI.pdf.