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Introdução
A importância do fornecimento de colostro para bezerros recém-nascidos é quase universalmente reconhecida. Criadores de bezerros em todos os lugares entendem que a chave para bezerros saudáveis é alimentá-los com colostro de alta qualidade, limpo e cedo o suficiente em suas vidas para que o bezerro alcance o que é chamado de “sucesso na transferência de imunidade passiva” (STP). Bezerros que não recebem colostro suficiente, ou que são alimentados com colostros de baixa qualidade, ou tarde demais, não adquirem imunidade suficiente. Isso é chamado de “falha de transferência passiva” (FTP).
Tradicionalmente, determinamos se um bezerro atinge o STP medindo a quantidade de proteína total (PT) no soro do bezerro após a absorção das proteínas colostrais estar completa (cerca de 24 horas de idade). No entanto, os recentes avanços em tecnologia e aumento do uso de substitutos de colostro tornam o uso da PT sérica mais difícil e complexa. Para entender por que isso ocorreu, vamos começar com algumas definições e algumas experiências.
Primeiro, algumas definições
A transferência passiva bem sucedida ocorre quando o recém-nascido (após fechamento intestinal) apresenta concentrações séricas de imunoglobulina G (IgG) maiores do que alguns níveis críticos. Este nível varia de acordo com a espécie – para bezerros recém-nascidos, o padrão geralmente reconhecido é de 10 gramas de IgG por litro de soro (também pode ser definido como 1.000 mg de IgG/dL). Bezerros com IgG sérica <10 g/L após 24 horas de idade têm FTP. Muitos estudos mostraram que bezerros com FTP tem maior probabilidade de adoecer e/ou morrer. Esses bezerros também tendem a crescer mais lentamente e podem ser menos eficientes que aqueles com STP.
A imunidade passiva é determinada medindo a concentração de IgG no soro do bezerro. Por definição, a FTP ocorre quando a IgG sérica é <10 g/L. Isto requer que o sangue seja obtido a partir do bezerro após as 24 h de idade (o mais próximo possível de 24 horas) e o soro seja coletado desse sangue. A concentração de IgG é então medida usando uma das várias técnicas laboratoriais, mas mais comumente, a imunodifusão radial (IDR). O método IDR é considerado o “padrão ouro” para medir IgG no soro de bezerros, embora outros métodos (por exemplo ELISA, CLAE, ITA) possam ser mais rápidos, mais baratos e/ou mais precisos que o IDR.
Agora, algumas experiências
Os métodos para medir IgG no soro de bezerros são geralmente demorados e dispendiosos. Por exemplo, o método IDR requerer cerca de 24 horas para que um resultado seja conhecido. Outros métodos exigem equipamentos caros e conhecimentos especializados para serem executados. Portanto, a maioria desses métodos não é amplamente usados na fazenda para testes de rotina de bezerros para o FTP. Algumas empresas introduziram testes rápidos com base nessas tecnologias, mas esses testes, embora simples e rápidos, geralmente são caros.
Refratômetros
O refratômetro pode ser usado para estimar o conteúdo total de proteínas no soro. Para mais informações sobre como o refratômetro funciona consulte Calf Notes #62 e 183. Nota – o refratômetro mede a PT sérica, não o IgG. Esta é uma consideração importante.
O refratômetro na realidade mede a flexão de luz (refração) devido a diferenças na densidade do líquido que está sendo testado. A refração da luz que passa através do soro é geralmente devido a diferenças na concentração de proteína. Bezerros recém-nascidos alimentados com colostro geralmente terão concentrações séricas de proteína total muito mais altas (6 g de PT por 100 mL de soro) em comparação com bezerros não alimentados com colostro (3,5 a 4 g/dL). Assim, diferenças na refração podem ser correlacionadas a diferenças na PT. Essa é a lógica por trás do uso do refratômetro para medir a PT sérica.
A mensuração da PT no soro na fazenda com o refratômetro é rápido, fácil e barato. A dosagem de IgG sérica é mais difícil. No entanto, existe uma relação razoável entre os níveis séricos de PT e IgG quando os bezerros são alimentados com colostro materno. Embora a relação não seja 100%, está perto o suficiente para ser um bom teste na fazenda. Os bezerros com PT sérica <5,2 g/dL geralmente tem IgG sérica <10 g/L. (NOTA: alguns pesquisadores sugerem que 5,5 g/dL é um ponto de corte mais apropriado).
Devido ao fato de estimarmos PT com o refratômetro e usá-lo para estimar a IgG sérica, conclui-se que a relação entre PT e IgG no material de origem (ou seja, colostro materno) afetaria a relação entre PT e IgG no sangue. É importante lembrar que a absorção de moléculas no intestino durante as primeiras 24 horas no bezerro é inespecífica. Isto é, o intestino irá absorver proteína IgG e proteína não-IgG similarmente; somente depois que as moléculas são absorvidas é que a proteína não-IgG é metabolizada ou excretada (para uma revisão, ver Calf Note #168). Portanto, a proporção de IgG para proteínas não-IgG do colostro ou um substituto de colostro pode afetar a proporção de PT e IgG no sangue.
Vamos dar uma olhada na proporção de IgG:PT no colostro materno (CM) e vários substitutos de colostro disponíveis no Mercado (Tabela 1). Aqui você pode ver claramente a variação na proporção de IgG: PT, que varia de 25% a 71%. Observe que o produto derivado de plasma tem uma proporção semelhante à do CM; no entanto, o tipo de proteínas no produto difere do CM – outra fonte de variação.
Como a proporção de IgG: proteína no colostro materno e vários substitutos do colostro diferem, é improvável que a relação entre a PT sérica e o IgG sérico em bezerros alimentados com vários produtos seja a mesma. Portanto, devemos reavaliar a relação entre a PT sérica e o IgG sérico para cada tipo de produto. Minha equipe de pesquisa relatou em 2002 a diferença na relação entre os níveis séricos de PT e IgG quando os bezerros foram alimentados com substitutos de colostro baseados em plasma (Quigley et al., 2002) e um substituto baseado em colostro (Quigley et al. 2014). Em ambas as situações, a relação entre IgG e PT diferiu daquela do colostro materno.
A Figura 1 é de Quigley et al. (2002) e mostra as diferentes relações entre IgG: PT em CM e em um SP. O ponto em que os bezerros alimentados com colostro materno tinham IgG sérica = 10 g/L foi de 5,33 g/dL, o que é bastante semelhante a muitos outros relatórios de pesquisas que sugerem que o ponto de corte é de 5,2 a 5,5 g/dL. Por outro lado, IgG sérica = 10 g/L quando PT foi de 4,85 g/dL em bezerros alimentados com SP. Então, se você pegasse uma amostra de sangue de um desses bezerros que mediu, digamos, 5,0 g/dL, concluiria que o bezerro tinha FTP com base na suposição de que <5,2 g/dL tem FTP. Você estaria errado. Este estudo (de 2002) e outros sugerem que precisamos de mais de um pronto de corte para a PT sérica para determinar se um bezerro absorveu IgG o suficiente.
A Figura 2 mostra outro estudo utilizando bezerros recém-nascidos alimentados com um de dois SC. O Produto 1 forneceu 150 g de IgG em uma alimentação; Produto 2 forneceu 130 g. Claramente, a relação entre o IgG e a PT nestes dois produtos diferiu. Para o Produto 1, o ponto de corte para estimar quando a IgG sérica era de 10 g/L era de aproximadamente 4,3 g/dL de PT sérica. Para o Produto 2, nenhum bezerro atingiu o STP, então não havia como calcular o ponto de corte para este produto.
A Figura 2 mostra claramente que os métodos de fabricação afetam a relação entre os níveis séricos de PT e IgG (os dois produtos eram de diferentes fabricantes usando diferentes métodos). Assim, é importante saber que tipo de produto está sendo usado e como a proteína e a IgG são absorvidas.
Resumo
A relação entre a PT sérica e o IgG sérico em bezerros alimentados com colostro materno é útil. Ela nos permite usar a PT sérica como uma estimativa rápida e fácil, da concentração de IgG. No entanto, novas tecnologias, incluindo a disponibilidade de substitutos do colostro com base em diferentes fontes de IgG, exigem que reavaliemos a suposição da relação entre essas duas variáveis. Os fabricantes de produtos comerciais devem avaliar essa relação e os criadores de bezerros devem estar cientes de que a PT sérica pode não ser mais uma medida apropriada da imunidade passiva.
Referências
Quigley, J. D., L. L. Deikun, T. M. Hill, H. G. Bateman, II, J. M. Aldrich and R. L. Schlotterbeck. Changes in serum IgG and total protein concentrations in calves fed differing amounts of colostrum replacer. J. Dairy Sci. J. Dairy Sci. 97(E-Suppl. 1):915.
Quigley, III, J. D., C. J. Kost, and T. M. Wolfe. 2002. Absorption of protein and IgG in calves fed a colostrum supplement or replacer. J. Dairy Sci. 85:1243-1248.