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Autor: Jim Quigley
Traduzido por: Paula Marques Tiveron, Sandra Gesteira e Rafael Azevedo
Introdução
Durante vários anos, os consultores de bezerros recomendaram protocolo padrão para fornecimento do colostro aos bezerros recém-nascidos, que inclui a administração do colostro com sonda esofágica (uma boa demonstração de como usar uma sonda esofágica da Universidade de Wisconsin está aqui). As sondas esofágicas permitem a administração de quantidade conhecida de colostro rapidamente. Mas, alguns gerentes de bezerros preferem o fornecimento do colostro aos recém-nascidos por mamadeira. Posicionamento adequado da sonda no bezerro recém-nascido, preocupações com bem-estar e o desejo de monitorar a ingestão do colostro são preocupações comuns dos gerentes de criação de bezerros sobre o uso de sonda esofágica. Outra questão comum é se a absorção de IgG do colostro é afetada pelo método de fornecimento. É geralmente aceito que o colostro fornecido por sonda irá primeiro entrar no rúmen, já que a goteira esofágica não fecha quando é feita a passagem da sonda. Se o colostro permanecer no rúmen por muito tempo, é possível que a eficiência da absorção de IgG possa ser reduzida. No entanto, vários estudos (Chigerwe et al., 2012; Godden et al., 2009) sugeriram que a IgG sérica final não é afetada pelo fornecimento com sonda versus mamadeira.
A maioria das pesquisas comparando mamadeira versus sonda avaliou colostro fresco obtido após ordenha das vacas. Há menos estudos que avaliaram os substitutos de colostro em pó e se o método de fornecimento pode ou não afetar a eficiência da absorção de IgG.
A Pesquisa
Um artigo publicado no Journal of Dairy Science de 2018 demonstrou os resultados de IgG sérica em bezerros alimentados com substitutos de colostro em pó, secos por spray-dried, administrado por mamadeira ou sonda esofágica. Neste estudo, bezerros recém-nascidos da raça Holandês (n = 20, com peso inicial = 44,8 kg) de uma fazenda leiteira comercial (Millet, Alberta, Canada) foram utilizados. Dentro de 10 minutos após o nascimento, os bezerros foram separados das mães, pesados e levados para baias individuais com palha. Utilizou-se colostro seco por spray dried, à base de colostro bovino. O produto (750 gramas) foi misturado com água até volume final de 3L, sendo fornecidas 200 gramas de IgG na primeira mamada. Às 12 horas e a cada 12 horas até 48 horas, os bezerros foram alimentados com 3 L de leite pasteurizado. Portanto, a única fonte de IgG ocorreu na primeira mamada. Os pesquisadores monitoraram as concentrações séricas de IgG e vários outros constituintes sanguíneos. Por uma questão de objetividade, este Calf Notes irá relatar apenas as concentrações séricas de IgG. Além disso, os pesquisadores usaram marcador de esvaziamento do abomaso, para que pudessem determinar se diferenças (se houver) na concentração sérica de IgG poderiam ser atribuídas a diferença na forma como o colostro saía do abomaso e entrava no intestino, onde ocorria absorção.
Resultados
Um resumo de como a IgG do colostro foi absorvida está na Tabela 1. O consumo de colostro foi mais rápido quando utilizaram sonda (lógico, pois é mais rápido administrar via sonda ao invés de mamadeira). Além disso, como nem todos os bezerros alimentados com mamadeira consumiram todo o colostro, a ingestão de colostro foi maior quando os bezerros foram alimentados por sonda. Estas são todas as razões para apoiar o uso de sonda esofágica para administração mais rápida e completa do colostro.
As concentrações séricas máximas não diferiram e foram > 24 g/L em ambos os tratamentos. Em geral, consideramos concentrações séricas de IgG > 10 g/L para indicar “transferência passiva bem-sucedida”, portanto, esses valores indicam que as IgG do colostro em pó foram bem absorvidas.
Uma observação interessante é que as concentrações máximas de IgG foram atingidas entre 13 a 16 horas após a administração do colostro. Os bezerros foram alimentados em aproximadamente 2 horas após o nascimento. Portanto, esses dados sugerem que são necessárias cerca de 11 a 14 horas para atingir o pico da concentração sérica de IgG. Note que houve apenas 1 fornecimento do colostro em pó. Se os pesquisadores tivessem fornecido uma segunda alimentação de colostro, provavelmente o pico de concentração teria ocorrido mais tarde.
As concentrações séricas de IgG estão na Figura 1. Claramente, não há diferenças entre o fornecimento de colostro via sonda e mamadeira. Além disso, a taxa de esvaziamento do abomaso (52 a 53%/hora) foi semelhante entre os tratamentos. Podemos propor alguns conceitos importantes dessa observação.
Se assumirmos que o colostro administrado por sonda entra no rúmen, enquanto o colostro consumido pela mamadeira contorna o rúmen e vai diretamente para o abomaso, então esperamos diferença no esvaziamento, já que haveria pouco colostro no abomaso de bezerros alimentados com sonda. No entanto, não houve diferenças no esvaziamento do abomaso. A razão é provavelmente devido ao tamanho do rúmen em bezerros recém-nascidos. Segundo o trabalho de Chapman et al. (1986), o rúmen de bezerros recém-nascidos pode ter capacidade apenas de 400 mL. Portanto, se administrarmos grande quantidade de colostro (> 400 mL) pela sonda esofágica, não há capacidade suficiente no rúmen. O excesso de colostro irá sair do rúmen para o omaso e abomaso. Neste experimento, os bezerros receberam 3 L de colostro, de modo que é provável que pelo menos 2,5 L de colostro tenham seguido para o abomaso, no grupo colostro fornecido via sonda. Também é possível que, à medida que o abomaso se esvaziava, qualquer colostro remanescente no rúmen se movia para o abomaso. Portanto, não houve efeito sobre o esvaziamento do abomaso e nenhum efeito na absorção de IgG.
Resumo
Os bezerros que receberam colostro via sonda esofágica absorvem IgG equivalente a bezerros que recebem o colostro pela mamadeira. Isto parece ser verdade para colostro materno ou colostro em pó. Além disso, parece que o fornecimento de mais de 400 mL de colostro por sonda resulta em “transbordamento” do rúmen para outros compartimentos do estômago dos bezerros.
Consequentemente, parece que não há efeito significativo sobre o esvaziamento do abomaso ou a absorção de IgG.
Referências
Chapman, H. W., D. G. Butler, and M. Newell. 1986. The route of liquids administered to calves by esophageal feeder. Can. J. Vet. Res. 50:84–87.
Chigerwe, M., D. M. Coons, and J. V. Hagey. 2012. Comparison of colostrum feeding by nipple bottle versus oroesophageal tubing in Holstein dairy bull calves. J. Am. Vet. Med. Assoc. 241:104–109.
Desjardins-Morrissette, M., J. K. van Niekerk, D. Haines, T. Sugino, M. Oba, and M. A. Steele. 2018. The effect of tube versus bottle feeding colostrum on immunoglobulin G absorption, abomasal emptying, and plasma hormone concentrations in newborn calves. J. Dairy Sci. 101:1–12.
Godden, S. M., D. M. Haines, K. Konkol, and J. Peterson. 2009. Improving passive transfer of immunoglobulins in calves. II: Interaction between feeding method and volume of colostrum fed. J. Dairy Sci. 92:1758–1764.