Calf Note 195 – O que vai volta…

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Autor: Jim Quigley

Traduzido por: Rafael Alves de Azevedo, Sandra Gesteira Coelho e Paula Marques Tiveron

Introdução

Você sempre ouve aquele velho ditado: “O que vai volta”? Nesse caso, eu NÃO estou me referindo ao vídeo musical de Justin Timberlake (que você pode encontrar no Youtube)… mas falando em coisas antigas, elas se tornam novas de novo. Ou, talvez, tenhamos que reaprender coisas antigas, aprendidas há muito tempo.

Recentemente, eu estava revisando publicações do Journal of Dairy Science (edições antigas disponíveis em www.journalofdairyscience.org) para pesquisas relacionadas a bezerros. A revista digitalizou todo o seu catálogo, portanto todos os artigos do Volume #1, redigidos em 1917, estão disponíveis on-line (Nota: este ano, a revista está publicando o Volume 100). Incrível! A quantidade de informações contidas é simplesmente impressionante com o volume de ciência de alta qualidade na ponta dos dedos. Que recurso!

Realizei uma pesquisa nos arquivos da revista pela palavra “colostro” e classifiquei os artigos disponíveis por data – pelos dados mais antigos primeiro (havia aproximadamente 3.648 artigos contendo a palavra “colostro” nos arquivos da revista até o momento desta publicação!). Um artigo que imediatamente chamou minha atenção foi intitulado “O problema do colostro e a sua solução” por Ragsdale e Brody (dois nomes famosos na pesquisa em nutrição animal) da Universidade do Missouri, em Columbia, Missouri. O artigo foi publicado em 1923, no volume 6 da revista.

Tenha em mente que, em 1923, a tecnologia disponível para realizar pesquisas não estava desenvolvida. Não havia ensaios imunológicos, os métodos eram limitados para identificar proteínas e não havia nenhum método na fazenda para determinar a qualidade do colostro. O refratômetro foi inventado no final de 1800, mas a aplicação na fazenda exigiria quase 100 anos de refinamento. Portanto, muitas das conclusões feitas pelos pesquisadores foram devido a observação cuidadosa, uma compreensão perspicaz da fisiologia animal (dentro dos limites de conhecimento da época) e interpretação de dados. Claro, houve muitos becos sem saída e interpretações erradas, mas em geral, o método científico acabou nos levando à compreensão da nutrição animal, imunidade e fisiologia que temos hoje.

O artigo de Ragsdale e Brody merece uma leitura, mesmo que apenas por uma perspectiva de até onde chegamos desde 1923. Ou… como ás vezes, devemos reaprender o que já foi aprendido.  A essa altura, comentarei o resumo do final do artigo. Em itálico abaixo estão as declarações verbais do resumo com o meu comentário:

O sangue do recém-nascido não contém globulina ou anticorpos. O colostro é muito rico em globulinas e em anticorpos. A globulina e os anticorpos do colostro passam inalterados para o sangue do bezerro recém-nascido, no sitema digestivo. Esses fatos, e os fatos adicionais de que a taxa de doença e morte é muito maior entre os animais que não recebem colostro, do que entre aqueles que recebem colostro, indicam que é essencial que os recém-nascidos recebam o colostro.

A importância do colostro foi reconhecida há mais de 100 anos; de fato, muitos bons fazendeiros sabiam intuitivamente que o primeiro “leite materno” da vaca era essencial para a saúde e o crescimento do bezerro. No entanto, esta é uma das primeiras declarações documentadas em uma revista científica, para o fato de que os componentes intactos (que agora entendemos como imunoglobulinas) no colostro são absorvidos pela corrente sanguínea do bezerro e conferem imunidade passiva. O artigo afirma que quando os bezerros foram alimentados adequadamente com o colostro, a mortalidade neonatal foi <10%, enquanto que quando o colostro não foi dado, foi >25%.

Em 1923, os pesquisadores não entenderam que “anticorpos” e “globulina” eram os mesmos. Hoje, sabemos que a vaca produz colostro com grandes quantidades de imunoglobulinas – IgG, IgA e IgM – para fornecer imunidade ao bezerro recém-nascido. E, no que diz respeito recomendar que os bezerros recém-nascidos sejam alimentados com colostro – talvez esta seja uma das primeiras recomendações científica?

Se o colostro tiver infectado com organismos patogênicos, esses organismos podem ser inativados pela pasteurização. A pasteurização não altera em muito as propriedades do colostro, desde que seja feita em banho-maria, evitando zonas quentes. Devido ao aumento relativamente rápido do coeficiente de temperatura da coagulação térmica de proteínas, as temperaturas mais baixas de pasteurização oferecem uma margem de segurança muito mais ampla do que as temperaturas mais altas de pasteurização; 60°C, é a temperatura mais segura para a pasteurização do colostro.

Uma rápida revisão da história da pasteurização indica que as recomendações para pasteurizar o leite começaram no final dos anos 1800. Assim, esta pode ser a primeira avaliação registrada da pasteurização do colostro, os efeitos sobre a qualidade do colostro e as temperaturas recomendadas. Hoje, nós rotineiramente recomendamos que o colostro deva ser pasteurizado a 60ºC por 60 minutos para ter certeza de redução no número de Mycobacterium avium paratuberculosis (doença de Johnes).

As primeiras tentativas de pasteurizar produtos, usavam com frequência chama direta ou vapor injetado no líquido para aumentar a temperatura. No caso do leite ou colostro, esses procedimentos causariam a coagulação das proteínas, tornando o colostro ineficaz. O uso de banho-maria foi recomendado neste artigo para eliminar esses problemas.

Pasteurização do colostro a 60°C, por 20 a 30 minutos não altera sensivelmente as propriedades do colostro e a experiência mostra que bezerros alimentados com esse colostro pasteurizado se dão bem em todos os aspectos, bem como bezerros que recebem o colostro in natura, e muito melhores que bezerros que não receberam colostro.

Nossa recomendação hoje é estender a pasteurização do colostro para 60 minutos, mas na mesma temperatura. Embora a maioria dos patógenos sejam eliminados após 30 minutos de pasteurização, um período de tempo mais longo mostrou reduzir uma grande variedade de patógenos. Quantos estudos foram feitos nos últimos 20 anos para mostrar resultados semelhantes a este estudo?

O método satisfatório para criar bezerro de vaca infectada com tuberculose é, portanto, separar o bezerro da mãe no nascimento e fornecer ao bezerro colostro pasteurizado da mãe durante os primeiros dois a três dias após o nascimento. O colostro deve ser pasteurizado em banho-maria a 63°C, por vinte minutos, ou de preferência a 60°C, por trinta minutos.

Sábio conselho, se a enfermidade é a tuberculose, paratuberculose, E. coli, ou outros patógenos. o velho ditado, atribuído a Winston Churchill (e outros) vem à mente: “Aqueles que deixam de aprender com a história, estão condenados a repeti-la”.

Referência Ragsdale, A. C. and S. Brody. 1923. The colostrum problem and its solution. J. Dairy Sci. 6:137–144.

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